A produção envolve período de fermentação de quatro a cinco dias em reservatórios com água
A relação entre Bragança, no Pará, e a produção de farinha de mandioca é tão antiga quanto a origem do município. É por isso que a produção de farinha local recebeu o registro de Indicação Geográfica (IG) na modalidade Indicação de Procedência. Tipicamente brasileira, a farinha de mandioca de Bragança é a 80ª IG do Brasil, tendo o seu registro publicado na edição 2628 da Revista de Propriedade Industrial.
A farinha de mandioca já fazia parte do cotidiano dos índios que viviam na região antes do século XIX e, até hoje, sua produção segue um método específico, que envolve um período de fermentação de quatro a cinco dias de molho em reservatórios com água. Após ser descascada, a mandioca é colocada novamente de molho por mais 24h em água limpa e, em seguida, é triturada e colocada no tipiti (utensílio indígena que funciona como uma prensa) ou em prensa comum, para a separação do líquido (tucupi). A massa da mandioca, então, é escaldada e torrada.
A farinha de mandioca de Bragança é bem granulada e possui um sabor específico e inconfundível devido à ação da fermentação e ao uso recorrente da mandioca brava, que contém maior concentração de ácido cianídrico em sua composição e passa por um processo de redução desse teor para se tornar apta ao consumo humano.
A tradição é fator importante na produção da farinha de mandioca de Bragança, explica a coordenadora de Indicação Geográfica de Produtos Agropecuários do Ministério da Agricultura, Débora Santiago. “A manutenção da produção por mestres farinheiros nativos da região fez com que o produto alcançasse reconhecimento nacional e internacional. Assim, a farinha de mandioca é patrimônio imaterial, símbolo da história e da cultura popular de Bragança e, a partir de hoje, uma Indicação Geográfica protegida”.
Bragança produz entre 800 a 850 toneladas de farinha de mandioca por mês e possui cerca de nove mil produtores locais. Com o passar dos anos, a produção foi ampliada para municípios vizinhos, que também compõem a área delimitada pela Indicação Geográfica: Augusto Corrêa, Santa Luzia do Pará, Tracuateua e Viseu.
O chefe da Divisão de Desenvolvimento Rural da Superintendência Federal de Agricultura no estado do Pará, Otávio Durans, destaca o papel fundamental do Fórum Técnico de Indicação Geográfica e Marcas Coletivas do Estado do Pará para a conquista do registro de IG. O Fórum reúne diversas instituições, incluindo a Superintendência paraense, no fomento e apoio a potenciais registros.
“O reconhecimento oficial da IG Bragança para o produto farinha de mandioca é motivo de orgulho e comemoração pelos produtores da região e por todas as instituições que apoiaram o processo de estruturação deste registro”.
Indicações Geográficas Brasileiras
A Indicação Geográfica é um instrumento de reconhecimento da origem geográfica, conferida a produtos ou serviços que são característicos do seu local de origem, que detêm valor intrínseco, identidade própria, o que os distingue dos similares disponíveis no mercado.
Além da farinha de Bragança, outros produtos tradicionais do Pará já receberam o reconhecimento oficial de Indicação Geográfica. É o caso do waraná (guaraná nativo) e o pão de waraná (bastão de guaraná), originários da Terra Indígena Andirá-Marau, primeira denominação de origem registrada na região Norte. O cacau de Tomé-Açu e queijo de búfala do Marajó completam a lista.
Informações: MAPA