As usinas de açúcar e etanol do Centro-Sul do Brasil estão enfrentando desafios significativos para direcionar mais de 50% de sua matéria-prima para a produção de açúcar, o que levou a uma revisão do mix de produção para 49,13% para a safra 2024/25. A estimativa de Açúcar Total Recuperável (ATR) também foi revisada para cima, esperando-se que termine a temporada em 140 kg por tonelada. No entanto, persiste a preocupação com a alta concentração de açúcares redutores, que complica a produção de açúcar.
Originalmente, a Hedgepoint Global Markets previu que a produção total de cana do Centro-Sul seria de 620 milhões de toneladas, mas isso foi ajustado para 614 milhões de toneladas devido a diversos fatores, incluindo os danos causados por recentes incêndios. Lívea Coda, analista de Açúcar e Etanol da Hedgepoint, comenta que apesar das correções, essa projeção ainda pode ser vista como otimista por alguns especialistas.
A robustez do Total de Cana por Hectare (TCH) foi uma nota positiva, indicando uma resiliência frente aos desafios climáticos e de manejo. “Apesar de uma expectativa de correção semelhante à observada no TCH de 21/22, os dados do Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) apresentam uma perspectiva mais otimista”, explica Coda. “Por isso, as revisões foram concentradas no mix de açúcar e na qualidade da cana”, adiciona.
Nas primeiras semanas de agosto, apenas 49,27% da matéria-prima foi direcionada para a produção de açúcar, uma redução em relação aos 50,82% do mesmo período no ciclo anterior, reforçando os desafios para superar a marca dos 50% até o fim da temporada.
“Os problemas de qualidade da cana, exacerbados pela alta concentração de açúcares redutores e pelos impactos dos recentes incêndios, nos levaram a ajustar o mix de açúcar para 49,13%”, destaca Coda. Além disso, o ATR mostrou um aumento inicial para 151,09 kg por tonelada no início de agosto, um crescimento de 1,25% em comparação com a safra anterior.
Os ajustes resultaram em uma previsão de produção de açúcar de 40,8 milhões de toneladas para 40,3 milhões de toneladas para 2024/25, intensificando a pressão sobre o mercado durante o período de entressafra e influenciando as expectativas para os contratos futuros de açúcar, especialmente para março.
O panorama também sugere que a produção de etanol pode aumentar, dada a mudança no mix de açúcar e a necessidade de gestão dos estoques de biocombustíveis. “Isso pode proporcionar algum suporte aos preços do etanol durante o verão brasileiro, mas também representa uma pressão descendente devido ao aumento da oferta”, conclui Coda.
As decisões futuras das usinas sobre o mix de produção provavelmente permanecerão estáveis no curto prazo, com a possibilidade de outro ano com excesso de estoques de etanol, indicando uma continuação da tendência de ‘máx-açúcar’ para a safra 25/26.
Apesar de alguns sinais de recuperação na produção do Hemisfério Norte, é improvável que isso compense totalmente o déficit nos fluxos comerciais de açúcar. Com o avanço para o período de entressafra, espera-se que os preços do açúcar flutuem entre 20 e 24 centavos de dólar por libra-peso, com o etanol potencialmente já tendo atingido o pico de 16 centavos de dólar por libra-peso, influenciado pelo fator Cbio e outras condições de mercado.