As contas públicas do Brasil fecharam o mês de agosto de 2024 com um déficit de R$ 21,425 bilhões, conforme dados divulgados pelo Banco Central. Embora o valor represente uma ligeira melhora em relação ao saldo negativo de R$ 22,830 bilhões registrado no mesmo período de 2023, o resultado reflete a complexidade do cenário fiscal brasileiro e o impacto desse déficit em diversos setores, incluindo o agronegócio.
O setor público consolidado — que engloba a União, estados, municípios e empresas estatais — acumula, nos primeiros oito meses de 2024, um déficit primário de R$ 86,222 bilhões. Em 12 meses, o valor chega a R$ 256,337 bilhões, correspondendo a 2,26% do Produto Interno Bruto (PIB). Este déficit primário indica que as despesas do governo federal continuam superando suas receitas, o que pode aumentar a pressão sobre áreas estratégicas da economia.
Desafios para o agronegócio com o déficit fiscal
O agronegócio, um dos principais pilares da economia brasileira, também sente os reflexos da gestão fiscal. O déficit nas contas públicas pode resultar em cortes no financiamento rural, redução de investimentos em infraestrutura logística e dificuldades no acesso a linhas de crédito para produtores rurais.
Além disso, o aumento da dívida pública e a necessidade de ajuste fiscal podem impactar diretamente programas de incentivo e apoio à produção agrícola, afetando desde grandes produtores até os pequenos agricultores familiares. A crescente dívida líquida do setor público, que alcançou R$ 7,026 trilhões em agosto (62% do PIB), e a dívida bruta de R$ 8,898 trilhões (78,5% do PIB) indicam um desafio significativo para o governo em equilibrar as contas e manter políticas que beneficiem o agronegócio.
Setor agropecuário e as finanças regionais
Em agosto, o Governo Central (que inclui Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência Social) registrou um déficit de R$ 22,329 bilhões, o que agravou o resultado das contas públicas. No entanto, os governos estaduais conseguiram apresentar um superávit de R$ 3,386 bilhões, sugerindo que as finanças regionais podem estar mais controladas em alguns estados produtores, como Goiás e Mato Grosso, grandes produtores de soja, milho e carne bovina.
Por outro lado, os governos municipais registraram um déficit de R$ 2,951 bilhões, refletindo dificuldades que podem atingir diretamente regiões com forte presença do setor agropecuário, comprometendo investimentos em infraestrutura local, como estradas e armazenagem, essenciais para escoar a produção agrícola.
Análise Crítica
O agronegócio brasileiro, que responde por uma fatia significativa do PIB e é um dos motores do crescimento econômico, enfrenta um cenário de incerteza diante do crescente déficit fiscal. A continuidade dos déficits, mesmo com sinais de recuperação econômica, pode impactar programas de financiamento e suporte ao setor, além de aumentar a dependência de investimentos privados. Se por um lado, o superávit em algumas esferas estaduais é um alívio, por outro, os déficits municipais podem restringir investimentos essenciais em infraestrutura para o setor rural, afetando diretamente o escoamento da produção e a competitividade do Brasil no mercado internacional.